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“A luz de cor da artista cria um prisma de volume simultaneamente virtual, mas arquitetonicamente factual, ao tomar seus pontos de apoio e sua extensão conforme as dimensões da galeria. Os fios que cortam a penumbra da sala parecem ― com sua tensão física para cruzar de um canto a outro ― suscitar, na própria resistência em não fletir, um vencimento temporal do vazio, uma aventura da linha e do “volume cego” em vencer o “atrito do nada”. Sua instalação, feita desta cor/luz filiforme, propõe-se como o objeto espacial total, justamente ao ativar aquilo que inexiste (o espaço negativo da galeria) em uma massa etérea tecida pelo feixe e ritmo das cores que progridem das contrastantes (amarelo, rosa) às harmônicas (amarelo, laranja), tomando o círculo cromático como uma cadência de atravessamento da sala.”

 

GUILHERME BUENO, crítico de arte, curador do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, junho de 2010

 

 

"No lugar do papel, suporte tradicional do desenho, Edna Kauss escolhe o vazio do espaço, aquele platônico: vazio, neutro e o mesmo em toda sua extensão, para desenhar com luz. Logo seus desenhos se transformam em esculturas, herdeiras da tradição minimalista e do construtivismo que frutificou nos trópicos nos anos 1950-60. O momento de apreensão formal dos desenhos no vazio é o que entrega sua potência: são planos virtuais que se entrecruzam invisíveis que a artista nos entrega na forma de perímetros coloridos. Nesse segundo momento da escultura (ou instalação?) em vários planos em ato já somos obrigados a nos afastar do conceito de espaço platônico para nos entregarmos às determinações do lugar: a galeria, esta como qualquer cubo branco – o lugar moderno ideal para a arte – nunca teve nada de neutro. E esta ainda sofre a forte interferência do exterior pela parede de vidro voltada para uma calçada de Ipanema, movimentada pelos pedestres e sobretudo por alunos e professores que frequentam a Universidade Candido Mendes. É neste espaço real que Edna é chamada a materializar sua escultura-instalação.

 

Fortemente ligado à melhor tradição moderna, o trabalho se apresenta na pura visibilidade, dispensa retóricas e temas extra-artísticos tão em moda no universo chamado pós-moderno. E nem por isso perde sua força contemporânea: somos chamados a experimentá-lo com o corpo e não apenas com os olhos. Se de um lado o trabalho é completo na experiência da contemplação, de outro nos oferece um lado diferente de sua existência: o de atravessá-lo, de passarmos pelos planos virtuais determinados pelas linhas de cor e desse modo permitir uma nova experiência do espaço que pensávamos por demais conhecido. Afinal, é isso que toda obra de arte faz: permite-nos ver e experimentar de outro modo algo que pensávamos já conhecido, seja uma maçã pintada ou o espaço da Galeria Maria de Lourdes Mendes de Almeida, em Ipanema, no Rio de Janeiro."

 

PAULO SERGIO DUARTE, historiador e crítico de arte, junho de 2011.

 

 

"Luz e rigor formal. Transcendência e ironia.

 

Os trabalhos de Edna Kauss, tributários da tradição construtivista brasileira, convidam a experimentar as infinitas possibilidades dos espaços visíveis e invisíveis. Luz é cor. E as cores estabelecem novas experiências com o espaço da arquitetura. Criam, assim, verdadeiros desenhos de luz. As obras instauram um lugar justamente ao solicitar a interação com o espaço pelo visitante, lugar este do imponderável, território da arte por excelência.

 

A artista usa cabos e fitas eletroluminescentes, objetos retirados da circulação da atual sociedade da informação. De um mundo onde tudo é possível e pessoas tornaram-se supérfluas e descartáveis."

 

MARTHA TELLES,  historiadora, crítica de arte e curadora, outubro de 2015.

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